Habitante da península de Yamal, na Sibéria Leia mais
Despedida - Zec
Meus amigos hoje me despeço.
Sentei agora na calçada olhando o sol. Imaginem um sol brilhante! Fiquei totalmente ofuscado por seu brilho incessante. Por pouco não contemplava o azul do céu.
E que céu inacreditável. Azulado! Pura perfeição! Fotografia que poderia ter sido pintada por um poeta do guache. E para completar, avistei, escamoteando por entre as parcas nuvens, uma águia que deslizava.
A águia rasgava os céus com uma verdade ululante em seus olhos. Penso que olhava diretamente para os meus olhos transmitindo uma mensagem que não consegui entender. Mas não tive tempo!
Um barulho ensurdecedor tomou conta do horizonte. Assustado corri na direção contrária sem olhar para trás, como meu sopro de vida dependesse disso. Percebi que ao meu lado outro animal me acompanhava.
Um frio irritante percorreu a minha espinha quando defini claramente aquele bicho. Era uma onça! Não ouse me chamar de mentiroso! Do meu lado achava-se uma onça. Confuso fiquei ainda mais porque não consegui discernir se ela correra do estrondo ou me tomara como presa.
O tempo ganhou outra dimensão. Aquela velocidade improvável que alcancei me parecia agora lentidão. Um filme que passava quadro-a-quadro. Meus olhos borravam as imagens. Talvez fossem lágrimas que os embotavam. Mas era muito estranha a cena.
Quando olhei para frente uma luz tão brilhante quanto o sol, que avistara no início, dragou minhas esperanças de sanidade. A loucura me dominava. Não parei!
O brilho daquela luz me abraçava e me aquecia como braços da mulher amada. Talvez a mensagem que não li nos olhos aquilinos fosse de: - Siga seu destino!
Contudo poderia ser um alerta de fuga. Pena! Não compreendi e ainda não compreendo. Agora o torpor que me toma impede qualquer pensamento inteligível. Um sentimento orgástico, de completude, me tranquilizava.
O dual agora era real. Estaria eu no céu ou no inferno? Se era o paraíso ali queria ficar e me entregar. Será que a onça me pegou? Mas e se fosse o inferno? Quando chegaria o fogo para açoitar meu corpo e infligir a dor do castigo?
Tentei desesperadamente abri meus olhos para acordar daquele sonho, ou melhor, pesadelo. Inútil esforço! Aquilo era real! Estava realmente acontecendo! Aquele céu azul se perdera na tinta poética do pintor.
Como por um passe de mágica o brilho desvaneceu. Permanecia apenas a paisagem verde que eu mirava, contrastando com o azul celeste. À minha esquerda um cãozinho, que nunca antes existira em minha vida, era acariciado involuntariamente por minha mão lisa. Caramba! Para onde foram as rugas que ganhei com o tempo?
À direita, a águia pairava segurando uma chave em suas garras. E seu olhos agora sorriam para mim. Agora eu entendi!
Levantei-me e segui meu caminho!
Kat cadê você?