Marcelo suplica por confiança. Suplica pelo amor e por qualquer outra coisa que sua “amada” possa oferecer. Suplica a presença, o beijo, o corpo. Suplica a alma. E sua alma, que fique em suplício.
A trajetória de Marcelo Zagonel no BBB14 é o retrato fiel de uma seleção equivocada de participantes que pleiteiam vagas no programa. É o retrato fiel da incompetência da direção do Big Brother em expor sem dó nem piedade o que há de pior em cada um, tanto naquele que é assistido, quanto no que assiste. É o retrato fiel do sadismo de muitos mandachuvas da mídia brasileira. A trajetória de Marcelo é o triste negativo das fotos de uma pessoa pretensamente “feliz”. A trajetória de Marcelo, tanto no BBB14, como na vida até então, é isso: TRISTE.
Quando resolvi torcer e defender Marcelo, fui tocado por algo de muito limpo e de muita suavidade. Sua figura desabrochou em mim verdadeiros instintos maternos, de proteção, de sustentação. Isso é apenas sinal de que minha psique sempre me sinalizou de que era algo nesse sentido que Marcelo clamava. Quando “resolvi” gostar de Marcelo, mesmo que inconscientemente, já sabia sempre das armadilhas que a personalidade dele poderia apresentar. Ele sempre foi uma bomba-relógio e, se não se cuidar, sempre será. Entretanto, gostar não é garantia sempre de defesa. Gostar em um BBB pode passar ao largo de torcer para vencer a competição, e meu caso com Marcelo é esse, pelo menos nas últimas três semanas. Quando gostamos queremos o melhor, queremos o DESENVOLVIMENTO da pessoa, mesmo que isso passe pelo enfrentamento de dificuldades e pela frustração da derrota. E para mim, qualquer tipo de frustração, desde que acompanhada com o devido cuidado e suporte, é mais do que necessário para Marcelo, neste momento.
Sim, eu vejo que Marcelo precisa de ajuda profissional – ele e sua família, pois assim como a formação do sujeito, os sintomas deste se dão em relações, em trocas emocionais no seio familiar. Marcelo precisa de ajuda para aprender a encarar as consequências de seus atos no cerne da realidade que é compartilhada por ele E PELA SUA COMPANHIA. Marcelo precisa de ajuda para entender que o motor de sua autoestima não é alimentado pelas migalhas que suas companhias possam lhe oferecer. Marcelo precisa de ajuda para entender que o OUTRO NÃO É A EXTENSÃO DE SEU EGO, que o OUTRO PODE NEGAR-LHE SER O COMBUSTÍVEL DE SUA “FELICIDADE”. Marcelo precisa de ajuda para NÃO SE REPETIR na conduta de mendigar o afeto alheio, na conduta de responder a frustração com agressividade, na conduta de POSSUIR o outro, não dando-lhe a chance da existência independente. Marcelo precisa de ajuda para aprender a SE AMAR; para aprender a produzir reforçadores que sustentam um comportamento saudável na relação íntima; para aprender que SEU PRÓPRIO POSICIONAMENTO, DIZER, ATITUDE, PENSAMENTO E ESCOLHA podem produzir o combustível da sua autoestima. Marcelo precisa de ajuda para desbravar o misterioso, porém enriquecedor processo de autoconhecimento. Porque Marcelo carece, e muito, de autoconhecimento.
A psicoterapia – assim como a meditação, a religião, os grupos de apoio, etc. – se faz importante porque ilumina outros caminhos, que não o da REPETIÇÃO. Se faz importante porque promove o desembaçamento do olhar, desamarra-nos da posição que ocupamos na linguagem e na falta do objeto perdido de amor, aquele que sonhávamos ter na infância, que supria todas as nossas necessidades e desejos, mas que se transformou em ilusão. A psicoterapia se faz importante porque nos coloca no meio do caminho para o autoconhecimento. E para tanto, qualquer abordagem terapêutica que se proponha PSICOTERAPIA não enxerga apenas o comportamento em si, mas esse comportamento em uma relação, tanto de sujeito – ambiente, quanto de sujeito – história. Autoconhecer-se é integrar a história ao presente, aceitando a ASSUMINDO AS RESPONSABILIDADES de consequências de escolhas feitas no passado. Autoconhecer-se é não negar os nossos demônios interiores, aprender a reconhecê-los e domá-los na medida do possível (e do máximo que possa se aproximar do impossível). Autoconhecer-se é reconhecer as pedras que tropeçamos no caminho, porque ESTAS PEDRAS SE REPETEM. Quando enxergamos a pedra, o atoleiro, o buraco do meio do caminho, podemos DESVIAR. Mas é necessário aquele desembaçamento. E após isso, a coragem de assumir uma nova escolha.
Digo isso para deixar claro que olhar para o passado de Marcelo, tentar correlacionar seu passado de obeso infantil, de criança submetida constantemente a bullying, de criança em relação quase simbiótica com sua mãe, a seus comportamentos atuais NÃO JUSTIFICA NADA, NÃO CONTEMPORIZA NADA, NÃO DESRESPONSABILIZA MARCELO DAS CONSEQUÊNCIAS DE SEUS ATOS AGRESSIVOS E POSSESSIVOS. Mas, ajuda a COMPREENDER os mecanismos de funcionamento psicológico do Marcelo e isso significa AUTOCONHECIMENTO – um passo fundamental para a possibilidade de DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL. E, como já falei extensamente por aqui, são apenas apontamentos hipotéticos, apenas exercício de um achismo razoavelmente embasado na ciência psicológica.
Sim, Marcelo foi uma criança obesa. Foi uma criança que sofreu os duros golpes do bullying de seus pares e também adultos. A procura de um "corpo perfeito" simboliza um dos atributos mais importantes da sociedade contemporânea e ter um corpo imperfeito é sinônimo de não ter força de vontade, ausência de restrições, ser-se preguiçoso e não saber autocontrolar-se. A relação entre comportamentos negativos de rejeição ou agressão contra indivíduos obesos tem sido pesquisada há bastante tempo. Por exemplo, Maddox, Back e Liederman (1969), em um artigo em que discutem a relação entre obesidade e problemas sociais, afirmaram que o indivíduo obeso tende a atrair rejeição e efeitos negativos pelo simples fato de ser obeso e que esses indivíduos tendem a ser estigmatizados como responsáveis por sua própria condição, sendo taxados de preguiçosos ou relaxados. Essa culpabilidade atribuída, segundo os autores, aumentaria os efeitos negativos nas relações sociais de tais indivíduos. Resultados de pesquisas feitas nos Estados Unidos, nas décadas de 80 e 90, apontam que crianças obesas quando comparadas às não obesas, eram menos desejáveis como amigas e rejeitadas com uma frequência maior pelos colegas de classe. As crianças obesas, em sua autoavaliação, também relataram maior nível de depressão e baixa autoestima (Strauss, 1984; Olweus, 1993; Smith, 1994; Ross, 1996; Rigby, 1996). Alguma semelhança com o Marcelo de hoje? Algum nível de depressão pode ser notado no semblante de Marcelo? Algum resquício da rejeição pode ser visto em Marcelo? Claramente, a resposta é SIM.
Existe uma realidade social de discriminação que influencia o funcionamento psicológico do indivíduo obeso, existindo como que uma aversão à gordura, que contribui para o comprometimento da autoestima e autoimagem, quer em crianças, quer em adultos. Em muitos casos a criança obesa tem dificuldade em aceitar-se tal como é, na medida em que tem receio de que os outros a achem ridícula, assim como sente dificuldade em aceitar a sua própria imagem, e rapidamente começa a desconfiar que os seus amigos fazem troça dela, que os professores a lastimam e que os pais lhe dizem mentiras a respeito do seu estado de saúde, contribuindo para que a criança se feche em si mesma, tornando-se uma criança apática, que não se interessa por nada, embora, na maior parte dos casos, as suas capacidades intelectuais sejam tão boas ou até superiores às das outras crianças. A exigência familiar e a falta ou diminuição de disponibilidade da criança obesa em relação às informações do meio ambiente poderem contribuir para a avaliação negativa do comportamento, levando-a a pensar que não se comporta de acordo com o que esperam dela.
Assim, o autoconceito do indivíduo obeso, que é o conhecimento que o indivíduo tem de si, englobando aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais, está ameaçado, merecendo atenção acrescida. Mais concretamente, a criança interioriza muito cedo que ter excesso de peso é indesejável, vendo o seu corpo como uma fonte de embaraço e vergonha, carregando consigo o estigma de ser "gorda", fazendo-a sentir-se inferior às outras crianças. Tal é tanto mais importante quando se sabe que o bem-estar e o sentido de valor pessoal, a construção da autoimagem e a capacidade de identificar e desenvolver as capacidades da criança são influenciados pela forma como se desenvolve o autoconceito. É nítido como esse pressuposto está arraigado no Marcelo dos dias de hoje. Marcelo não possui características de liderança e tende a “imitar” comportamentos daqueles que, na sua visão, são bem sucedidos no terreno afetivo (como as dancinhas de Roni, o cavanhaque de Júnior, etc.).
Mas Marcelo, atualmente, está longe de ser gordo. É fisicamente atraente e musculoso na medida certa. Desde a adolescência, Marcelo se mostrou disposta a mudar seu corpo infantil, a enterrar um passado de vergonha e feridas. Mas o problema não morreu na esteira da academia. O problema não desapareceu nos halteres e nem se diluiu nas proteínas. A mudança de corpo não veio seguida de mudanças emocionais. Porque a subjetividade de Marcelo foi forjada naquele corpo da infância. A estrutura emocional de Marcelo não passou pela “academia” assim como seu corpo. A mudança corporal foi motivada pela tentativa de enterrar o passado, de esquecê-lo. Mas como eu já disse, o passado enterrado e não reconhecido é um fantasma poderoso evoluindo dia após dia a demônio.
De fato, por trás das atitudes de impotência, de força e vigor de Marcelo (como nos flertes, na defesa irrefreável que ele faz por suas “amadas”), descortina-se uma vivência depressiva mais ou menos importante, contra o qual o “obeso adormecido” tenta se proteger: o vazio, a falta, a ausência são sentidos de forma aguda. Rapidamente, mobiliza-se uma vida fantasmática ligada à oralidade, assentada em intensas angústias de DEVORAÇÃO, e o mundo exterior é visto como perigoso. A devoração está na posse que Marcelo acredita ter sobre as mulheres que, por um momento, ofereceram fagulhas de intimidade e aproximação sexual. E o mundo exterior perigoso está nos outros que tentam tirar-lhe essa mulher, essa EXTENSÃO DE SI, aqueles que tentam mutilá-lo. Júnior, Aline e Cássio, cada um do seu jeito, constituíram esse mundo exterior perigoso, essa navalha que ousasse cortar a ligação entre Marcelo e Letícia ou Ângela.
Pelo medo da rejeição constante, Marcelo desenvolveu duas estratégias, uma de subjugação e outra de hipercompensação. Na subjugação, Marcelo se coloca na relação como o objeto do outro, a entrega total e irrestrita ao outro, mesmo que esse outro responda de maneira bem menos esforçada aos afetos oferecidos por Marcelo. Essa entrega ao outro limita a autonomia de Marcelo, limita qualquer repertório comportamental que Marcelo venha a ter e o submete a encaixar-se conforme aquilo que ELE PENSA que o outro deseja. Mas há uma exigência da qual Marcelo parece não abrir mão: mesmo que a companheira lhe ofereça como troca as migalhas do seu bem querer, ela não pode descartá-lo. O descarte é encarado como uma mutilação para Marcelo, uma dor que ele NÃO PODE (ou quer) SUPORTAR. Aí, encontramos sua hipercompensação. O “não” do outro, que antes aceitou seu investimento “amoroso” funciona como uma facada em sua estrutura emotiva, porque se colocando como objeto do outro, Marcelo na verdade demonstra que esse outro é uma EXTENSÃO DELE MESMO, ou ele é um extensão do outro. Portanto, lhe é inadmissível o corte, o “não”, talvez porque esse corte não foi vivenciado de fato na sua relação primordial, a relação com sua mãe.
Inúmeros estudiosos, dentre eles John Bowlby e Margareth Mahler, debruçaram-se sobre a forma como a estrutura da relação entre mãe e filho constrói o tipo de apego que esse filho desenvolverá nas suas relações futuras. Para o primeiro, a necessidade de apego do bebê à mãe é primária e sua não satisfação provoca o aparecimento de uma angústia primária. A angústia seria uma reação diante da separação e constitui o modelo de todas as situações posteriores que são fontes de angústia. Para Mahler, o ponto de partida é a existência de um estado fusional entre mãe e filho totalmente gratificante do qual toda angústia é excluída. Esta aparece nos primeiros momentos da fase de separação, em uma época em que o equipamento maturativo da criança fez progressos tais que, tanto na mãe quanto na criança, a fantasia de uma SIMBIOSE perfeita não pode ser mais mantida. A angústia de separação emerge então, e em torno dela se organizam as etapas posteriores.
O quadro pintado no parágrafo anterior pode hipotetizar que ainda hoje perdura a fantasia de uma SIMBIOSE entre Marcelo e sua mãe Leda. Possivelmente, a forma como Marcelo encarou a angústia da separação de sua mãe colocou, em um primeiro momento, a comida como substituta do seio materno e, depois, as mulheres. Como Jung salienta, uma das maiores demonstrações de como o complexo materno se encrusta em nós é pela via da nutrição mãe – filho. A comida poderia sinalizar a Marcelo a existência de uma época perfeita da qual não havia espaço para frustrações.
Possivelmente, por ser preterido pelas meninas na infância e pré-adolescência em decorrência do seu corpo, a substituição da mãe pelas mulheres foi escolhida por dois motivos: primeiro, pela própria reatulização de sua ligação com a mãe idealizada; segundo, pela demonstração de vitória (ou vingança) àqueles que lhe “impingiram” a vergonha de não conseguir conquistar o sexo oposto. Claramente esses dois motivos não deram conta de conter as frustrações vivenciadas por Marcelo.
E sim, a realidade não nos poupa de frustrações. Por mais que lutemos por evita-las, elas aparecem. Aparecem para Marcelo. Mas a dor parece-lhe ser insuportável e intransponível. Nós desenvolvemos nossos mecanismos de aplacamento dessa dor e Marcelo, certamente desenvolveu os dele. Basicamente dois, no caso: a agressividade e a realidade paralela. Marcelo responde com violência e desrazão quando se vê na iminência de perder a fonte de alimentação da sua autoestima (no caso, o mundo externo que tenta tirar “suas mulheres”, como já falei). É o mesmo grau de desespero quando nos colocamos no lugar de uma pessoa que vê seu braço sendo arrancado, e não, não há nenhum exagero do ponto de vista emocional aqui. Já a invenção de uma realidade paralela serve para os momentos onde Marcelo RACIONALMENTE percebe que o não de sua “amada” é iminente e sem volta. Na sua realidade inventada, claramente não espaço para frustração, É um espaço criado para Marcelo virar o jogo: demonstrar que “sua amada” é muito injusta em lhe dizer não. É uma realidade fantasiada para Marcelo ter a certeza de que ELE É O MELHOR QUE PODE ACONTECER À “SUA AMADA”. Afinal de contas, ele não foi a melhor coisa que aconteceu à sua mãe? Toda realidade inventada por Marcelo vem trazer para ele a CERTEZA de que a relação mãe-filho ideal, do passado, NUNCA ACABOU E NEM TEM MOTIVOS PARA ACABAR. A mulher que ousar desprezar essa posição de “mãe” que Marcelo lhe oferece, é indigna de ALTERIDADE.
A criação dessa “realidade fantasiada” é explicada pela psicologia analítica nos termos EGO e SELF. Para Jung, EGO é o centro da consciência e regula nossa identidade, a manutenção da nossa personalidade e nossa continuidade psíquica temporal. O SELF seria o centro regulador da personalidade inteira, tanto de aspectos conscientes quanto inconscientes. Jung afirmava que quanto maior o grau de consciência do EGO, maior o reconhecimento que o sujeito tem de suas sombras e chances de integrar elas a sua história iluminada. O contrário propicia um maior distanciamento do EGO com o SELF, ou seja, uma PERSONALIDADE CONSCIENTE ALIENADA. E isto claramente desabrocha em Marcelo por vários momentos. Ao invés de deixar emergir e apreciar suas sombras, Marcelo tenta desesperadamente escondê-las sob o véu de uma realidade paralela – realidade paralela e desconectada do seu SELF, do seu centro regulador, da sua ALMA.
Essa realidade inventada de Marcelo o aproxima perigosamente de Otelo, personagem de Shakespeare e a ilustração maior da literatura ao CIÚME. A trama é simples. Um prestigiado general de pele morena (Otelo) casa-se em segredo com a bela Desdêmona, filha de um nobre veneziano. Iago, amigo e subordinado do protagonista – e um dos mais famosos “malvados” da história do teatro –, faz de tudo para arruinar esse casamento e prejudicar seu superior hierárquico. Para atingir esse objetivo, instiga o ciúme, fazendo Otelo acreditar que a mulher o trai com Cássio, um jovem tenente. O plano funciona tão bem que Otelo acaba matando a mulher e suicidando-se em seguida.
Otelo ganha vida Marcelo quando este explode em raiva e agressividade frente ao seu objeto de posse, um ciúme patológico que demonstra menos preocupação em cuidar da “amada” do que defender o que é seu por “direito”. O próprio Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM) traz registrado esses tipos de comportamentos como um quadro sindrômico, chamado de “Síndrome de Otelo”. Classificada na parte dedicada à esquizofrenia e outras perturbações psicóticas, a síndrome é denominadaperturbação delirante de tipo ciumento. O diagnóstico, entretanto, não dá conta da diversidade de distúrbios: delírios de perseguição, obsessões, comportamento extremado e até mesmo psicopatia. Na maior parte das vezes, esses indivíduos apresentam grande imaturidade em suas relações e podem ter comportamentos agressivos, em geral associados ao consumo de álcool ou drogas ilícitas. Seu desejo de controlar a fidelidade do parceiro costuma ser extremado. Não é apenas o controle da fidelidade, mas da vida do parceiro.
Por outro lado, se é o ciúme que torna Otelo rapidamente irreconhecível, a questão se refere mesmo ao diagnóstico. Se nos ativermos aos critérios do DSM-IV, diremos que Shakespeare conseguiu ir mais longe do que a maioria dos escritores e psiquiatras. E, pasmem, MARCELO TAMBÉM: na primeira confrontação direta com Desdêmona/Ângela (ou qualquer outra mulher), o personagem/Marcelo é incapaz de manter uma discussão racional que possibilitaria dirimir de imediato as dúvidas. Em vez disso, ele a acusa e insulta, sem dar qualquer explicação. Nesse momento, vemos a que ponto a realidade lhe escapa. O que ele lamenta não é tanto a infidelidade, mas sim o aniquilamento de uma imagem idealizada e fantasiada da mulher, construída para preservar o próprio ego.
Cássio, nas suas acusações, não precisava forçar a natureza de Marcelo para enlouquecê-lo, bastava-lhe revirar o frágil ideal que o outro fazia de si mesmo e da “amada”, e sobre o qual assentava todo seu universo (demonstrando assim que Marcelo “amava” Ângela pela imagem que construiu dela). A partir de então, a mulher já não tem a mínima chance, pois não é dela que trata essa história – mas sim da “extensão” egóica de Marcelo.
Marcelo, no reino de suas incoerências e deturpagens, é um menino Homem. Um menino preso à mãe idealizada, um menino sinceramente muito doce e acalentador. Um menino que desperta a criança naqueles que o cercam, um menino que cativa com suas imitações, com seu semblante leve e afortunado. Mas Marcelo não é mais um menino. A adulteza lhe trouxe o perigo da morte. Da inexistência. Marcelo é digno de todo carinho quando é menino. Mas quando é homem.... Marcelo é um IMENSO CASTELO DE CARTAS. Erguido cuidadosamente e facilmente abatido na mais suave das brisas.
Marcelo, meu querido, te desejo tanta coisa. Te desejo vida. Te desejo amor. Te desejo humanidade. Te desejo futuro. Te desejo força. Te desejo a REALIDADE, meu querido.
Te desejo que você possa se encontrar, Marcelo.
E erguer um castelo...........................de paz interior
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