Antes de falar da eliminação é importante destacar a personagem de Roni dentro do jogo.
A trajetória do Super Roni pode ser dividida em 2 momentos bem claros: Roni - o Amado e Roni - o Ditador. E quando acontece essa mudança?
Nos primeiros dias de jogo Roni e seus dotes culinários e estéticos, além de uma disposição sem fim para ajudar encanta as moças da casa. As mulheres o paparicam em busca de atenção e ajuda. O garoto é uma unanimidade na casa.
Mantém uma relação de estreita amizade com Aline, mas se enamora de Tatiele em uma festa. A garota na mesma festa se arrepende, pois queria "ficar" com Diego. Mas o romance engatou sem volta. Mesmo assim Aline e Roni continuaram como se solteiros fossem.
Durante um jogo da verdade a caçadora de machismo, Bella, pergunta a Roni se ele deixaria Tatiele ficar sentando no colo dos outros rapazes, assim como Aline fazia com ele. Ele respondeu que não e ali começava a nascer um rótulo machista no garoto.
Porém, Roni continuava a limpar, cozinhar e lavar como um verdadeiro dono de casa. Além disso era responsável por depilar e fazer as sobrancelhas das meninas com linha quando era solicitado. E como era solicitado! Até aí era quase um intocável, haja vista que todas as recalcadas dessa edição nutriam por ele uma simpatia "gratuita".
[off-topic - Nunca vi uma edição com tanta mulher recalcada junta. Cada uma escondendo-se atrás de uma máscara de hipocritamente correta, de libertária preconceituosa e até mesmo de donas da verdade divina.]
Roni pintava, bordava, cortava o cabelo deles(as) e liderava sua equipe para as vitórias nas provas da comida. Uma jornada vitoriosa para o nosso herói que até aí era chamado de "Super".
Mas Bones não estava contente com o rumo dessa personagem e resolveu destruir a fonte do amor "gratuito" que as cobras, (ops!) mulheres do BBB sentiam pelo "brother". Boninho libera a pinça e o barbeador. No mesmo dia as najas, (ops!) as gatas já disparam: agora Roni já pode ir para o paredão.
Sua melhor amiga, Aline, ganha a prova do anjo e entrega para Valter em detrimento dele. Porque nessa altura do campeonato Bella pregava seu catecismo de anti-machismo persecutório. A atitude de Aline desencadeou um ressentimento e praticamente a dissolução dessa amizade.
O jogo continuou e Roni assumiu cada vez mais o papel de líder, síndico ou sargentão (como quiserem). Mas as vitórias na prova da comida não vieram e seu humor na Sibéria se deteriorava.
Sua relação com Tatiele, como a mesma definiu durante o paredão, era de namorado, amigo e pai. O pai era o que mais se destacava e sua sinceridade na relação despertava nas recalcadas os piores sentimentos. "Ai, que absurdo meu! Ele falando das celulites da menina.". Como a Aline falou isso para Tatiele não representava nada, porque ela tem a autoestima alta.
É aí que entra o X da questão. Roni sempre capitaneou grupos de modelos e conviveu com homens e mulheres distante de casa. Seu senso de preservação do grupo é extremamente aguçado, como demonstrou com atitudes de lealdade com Marcelo e Letícia. Além do que, o convívio com mulheres modelos quebra o preconceito homem-mulher e ele trata com a mesma sinceridade que tratasse com outro homem. E chama a atenção de celulites e afins para que as garotas se preocupem em cuidar da estética (elas vivem disso).
Mas até agora isso não significou nada. A pá de cal na história do Super se deu quando apoiou Letícia durante a execração pública realizada pela tropa das recalcadas, fingidas e fofoqueiras. Ali nascia um emparedado.
Não me interessa aqui julgar as atitudes do Roni. O seu comportamento é fruto de suas experiências pessoais de vida e seus valores. Valores esses que Bial descreveu como "uma cartilha de princípios inscrita no gelo" e que Ângela entendeu como ultrapassados e que eu entendo como valores. Lealdade e integridade devem ser aplaudidos mesmo por linhas tortas.
Abre-se também, no entorno, uma discussão desnecessária sobre a sexualidade do Super Roni. Discussão além de espúria é contraditória, porque nasce daqueles que rotulam as pessoas como algum tipo de "...ista" que lhe agrade.
Aí respondo para Bial: "O que é pior: homem machista ou homem feminista? O que faz de um sujeito, homem? Pipa ou pinça?". Coragem de errar tentando fazer o seu certo para ajudar os outros.
Enfim, Roni - o Grande merece nossos aplausos por sua trajetória, no mínimo coerente, talvez com ações exageradas, mas fruto de uma paixão e uma coragem presentes em poucos participantes que pisaram no BBB. Um homem com H!
Enquanto isso ficamos com as recalcadas e os covardes no BBB14. Então, Bial?
Vem ser esse Homem lindão aqui fora, Roni!
PS.: O melhor desse paredão foi mostrar que esse negócio de torcida Clanessa é fantasia. O jogo só termina quando acaba.
em laboratório.
Será tão perfeito como no antigório.
Rirá como gente,
beberá cerveja
deliciadamente.
Caçará narceja
e bicho do mato.
Jogará no bicho,
tirará retrato
com o maior capricho.
Usará bermuda
e gola roulée.
Queimará arruda
indo ao canjerê,
e do não-objecto
fará escultura.
Será neoconcreto
se houver censura.
Ganhará dinheiro
e muitos diplomas,
fino cavalheiro
em noventa idiomas.
Chegará a Marte
em seu cavalinho
de ir a toda parte
mesmo sem caminho.
O homem será feito
em laboratório
muito mais perfeito
do que no antigório.
Dispensa-se amor,
ternura ou desejo.
Seja como for
(até num bocejo)
salta da retorta
um senhor garoto.
Vai abrindo a porta
com riso maroto:
«Nove meses, eu?
Nem nove minutos.»
Quem já concebeu
melhores produtos?
A dor não preside
sua gestação.
Seu nascer elide
o sonho e a aflição.
Nascerá bonito?
Corpo bem talhado?
Claro: não é mito,
é planificado.
Nele, tudo exacto,
medido, bem posto:
o justo formato,
o standard do rosto.
Duzentos modelos,
todos atraentes.
(Escolher, ao vê-los,
nossos descendentes.)
Quer um sábio? Peça.
Ministro? Encomende.
Uma ficha impressa
a todos atende.
Perdão: acabou-se
a época dos pais.
Quem comia doce
já não come mais.
Não chame de filho
este ser diverso
que pisa o ladrilho
de outro universo.
Sua independência
é total: sem marca
de família, vence
a lei do patriarca.
Liberto da herança
de sangue ou de afecto,
desconhece a aliança
de avô com seu neto.
Pai: macromolécula;
mãe: tubo de ensaio,
e, per omnia secula,
livre, papagaio, sem memória e sexo,
feliz, por que não?
pois rompeu o nexo
da velha Criação,
eis que o homem feito
em laboratório
sem qualquer defeito
como no antigório,
acabou com o Homem.
Bem feito.
Carlos Drummond de Andrade, in 'Versiprosa'Fonte: http://www.citador.pt/poemas/o-novo-homem-carlos-drummond-de-andrade