A maquete
A aparência é um quadro que, muitas vezes, ilustra o
comportamento. Um dos reflexos do consumismo programado e imposto à sociedade é
o exagero e a futilidade. Não se compra
apenas objetos inúteis, supervalorizados e obsoletos. Compra-se, também, o
corpo “perfeito”.
O objetivo não é uma vida saudável. Muitas vezes, inclusive,
a saúde é excluída daquele cardápio, que inclui anabolizantes e outras substâncias
prejudiciais ao organismo. Distúrbio alimentar é epidemia e mera consequência de
uma sociedade psicologicamente doente.
O grupo selecionado por Boninho é composto por jovens de
classe média alta. A diferença entre conhecimento e estudo fica evidente
naquele universo, uma vez que a maioria teve acesso à escola e, ainda assim,
parece fútil. Não é por acaso que as pessoas estão cada vez menos críticas e mais
alienadas. Quase lançadas em série, reproduzem as mesmas opiniões e se
confundem fisicamente.
O método de ensino escolar é perfeitamente modelado ao nosso
sistema, o que não é um elogio. Os indivíduos aprendem a obedecer. Seguem uma
linha arcaica que se baseia no controle comportamental e na competitividade como
métodos de ensino. A mídia reforça a propaganda da alienação e, como consequência,
o indivíduo é mero espectador de um conhecimento que deveria interpretar e, sobretudo,
viver.
No BBB, os participantes precisam competir e eliminar uns aos
outros para vencer. Seus corpos são expostos a diversos julgamentos e suas
mentes foram programadas para aceitar a submissão degradante. O ganhador é aquele
que exala maior carisma e, muitas vezes por sorte, promove-se através de uma
história que o público - o Juiz - simpatiza.
Os quartos sem janelas, os banheiros desarrumados, a cozinha
colorida, a piscina que exibe e a academia que superlota juntam-se em uma
maquete que simula a realidade daquele grupo. Tanto lá dentro quanto aqui fora.
Ausência
Carlos Drummond de Andrade
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.