sábado, 18 de janeiro de 2014

Casa Cheia Mundo Vazio

A maquete


A aparência é um quadro que, muitas vezes, ilustra o comportamento. Um dos reflexos do consumismo programado e imposto à sociedade é o exagero e a futilidade.  Não se compra apenas objetos inúteis, supervalorizados e obsoletos. Compra-se, também, o corpo “perfeito”. 


O objetivo não é uma vida saudável. Muitas vezes, inclusive, a saúde é excluída daquele cardápio, que inclui anabolizantes e outras substâncias prejudiciais ao organismo. Distúrbio alimentar é epidemia e mera consequência de uma sociedade psicologicamente doente.


O grupo selecionado por Boninho é composto por jovens de classe média alta. A diferença entre conhecimento e estudo fica evidente naquele universo, uma vez que a maioria teve acesso à escola e, ainda assim, parece fútil. Não é por acaso que as pessoas estão cada vez menos críticas e mais alienadas. Quase lançadas em série, reproduzem as mesmas opiniões e se confundem fisicamente.


O método de ensino escolar é perfeitamente modelado ao nosso sistema, o que não é um elogio. Os indivíduos aprendem a obedecer. Seguem uma linha arcaica que se baseia no controle comportamental e na competitividade como métodos de ensino. A mídia reforça a propaganda da alienação e, como consequência, o indivíduo é mero espectador de um conhecimento que deveria interpretar e, sobretudo, viver.


No BBB, os participantes precisam competir e eliminar uns aos outros para vencer. Seus corpos são expostos a diversos julgamentos e suas mentes foram programadas para aceitar a submissão degradante. O ganhador é aquele que exala maior carisma e, muitas vezes por sorte, promove-se através de uma história que o público - o Juiz - simpatiza. 


Os quartos sem janelas, os banheiros desarrumados, a cozinha colorida, a piscina que exibe e a academia que superlota juntam-se em uma maquete que simula a realidade daquele grupo. Tanto lá dentro quanto aqui fora.




Ausência

Carlos Drummond de Andrade

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

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