Essa parábola polêmica de Eliane Brum, da Revista Época(14/11/2011), ganhou respostas dos evangélicos sobre o assunto, mas o objetivo aqui não é polemizar religião. E sim o fundamentalismo que subjaz a questão.
O BBB é um programa de entretenimento e como aquela pseudo-repórter - ex CQC - falou: não é complexo de se entender.
A complexidade sem limites se dá quando entendemos que ali dentro coexistem seres humanos. Naquele palco uma infinidade de atitudes,emoções e ações se apresentam através do fio condutor chama de seres humanos.
Podemos simplesmente abstrair nossos dogmas e valores e perceber que BBB é uma novela interativa e mais nada. Lá dentro encontraremos nossos Césares, Palomas, Brunos, Alines e Félix. E utilizaremos de nosso julgamento próprio para torcer por um ou por outro.
E falando de Félix, em sua trajetória na novela ele demonstrou um perfil agressivo, preconceituoso e arrogante. Suas ações geraram um debate na sociedade considerando que o autor tratava o caricatural "Flex", segundo Valdirene, de forma homofóbica e preconceituosa.
Alguém pode até dizer, particularmente não sei e não me interessa, que o autor pode falar sem preconceito porque também é homossexual; ele tem essa liberdade porque o é. E se por um acaso não o for?
A verdade é que Félix transformou-se, "pagou seus pecados" e hoje é a personagem mais popular da novela "Amor à vida", seja entre crianças, adolescentes e adultos. Por quê? A resposta pode ser simplesmente: não existe verdade que não seja uma mentira, nem uma mentira que não seja verdade.
Na edição BBB14 temos tipos diversos de personalidades que na opinião de uns são os melhores e na opinião dos outros são os piores. Todos são meros personagens dessa "Divina Comédia" que ao assinarem um contrato estão disponíveis para o julgamento do público.
Na verdade o mal que precisamos expurgar de nossas torcidas, à exemplo do futebol, para evitar violência desnecessária é a intolerância. Intolerância é uma atitude mental marcada pela falta de habilidade ou de vontade em reconhecer e respeitar divergências em crenças ou opiniões. Podemos também definir intolerância "como uma atitude expressa, negativa ou hostil, em relação às opiniões de outros, mesmo que nenhuma ação seja tomada para suprimir tais opiniões divergentes ou calar aqueles que as têm" (Wiki).
Tolerância como todo verso tem um anverso, seria "discordar pacificamente" e o que vai diferenciá-la é a carga de emoção.
O mais difícil não é tratar da intolerância alheia o mais difícil é como lidar com a nossa própria intolerância.
Nenhum jogo seja futebol, basquete ou BBB será motivo para perder um membro de uma família por não conseguir entender seu ponto de vista. Cada cabeça é uma sentença, uma história e uma vida. O que nos diferencia é o tempo que levaremos para ser adubo.
Vocês podem entender diferente, mas vocês para mim são irmãos. E tenho dito.
"E vamo parar de MIMIMI nesSAPOHA!!!!!"
A parábola do taxista e a intolerância
O diálogo aconteceu entre uma jornalista e um taxista na última sexta-feira. Ela entrou no táxi do ponto do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, por volta das 19h30. Como estava escuro demais para ler o jornal, como ela sempre faz, puxou conversa com o motorista de táxi, como ela nunca faz. Falaram do trânsito (inevitável em São Paulo) que, naquela sexta-feira chuvosa e às vésperas de um feriadão, contra todos os prognósticos, estava bom. Depois, outro taxista emparelhou o carro na Pedroso de Moraes para pedir um “Bom Ar” emprestado ao colega, porque tinha carregado um passageiro “com cheiro de jaula”. Continuaram, e ela comentou que trabalharia no feriado. Ele perguntou o que ela fazia. “Sou jornalista”, ela disse. E ele: “Eu quero muito melhorar o meu português. Estudei, mas escrevo tudo errado”. Ele era jovem, menos de 30 anos. “O melhor jeito de melhorar o português é lendo”, ela sugeriu. “Eu estou lendo mais agora, já li quatro livros neste ano. Para quem não lia nada…”, ele contou. “O importante é ler o que você gosta”, ela estimulou. “O que eu quero agora é ler a Bíblia”. Foi neste ponto que o diálogo conquistou o direito a seguir com travessões.
- Você é evangélico? – ela perguntou.
- Sou! – ele respondeu, animado.
- De que igreja?
- Tenho ido na Novidade de Vida. Mas já fui na Bola de Neve.
- Da Novidade de Vida eu nunca tinha ouvido falar, mas já li matérias sobre a Bola de Neve. É bacana a Novidade de Vida?
- Tou gostando muito. A Bola de Neve também é bem legal. De vez em quando eu vou lá.
- Legal.
- De que religião você é?
- Eu não tenho religião. Sou ateia.
- Deus me livre! Vai lá na Bola de Neve.
- Não, eu não sou religiosa. Sou ateia.
- Deus me livre!
- Engraçado isso. Eu respeito a sua escolha, mas você não respeita a minha.
- (riso nervoso).
- Eu sou uma pessoa decente, honesta, trato as pessoas com respeito, trabalho duro e tento fazer a minha parte para o mundo ser um lugar melhor. Por que eu seria pior por não ter uma fé?
- Por que as boas ações não salvam.
- Não?
- Só Jesus salva. Se você não aceitar Jesus, não será salva.
- Mas eu não quero ser salva.
- Deus me livre!
- Eu não acredito em salvação. Acredito em viver cada dia da melhor forma possível.
- Acho que você é espírita.
- Não, já disse a você. Sou ateia.
- É que Jesus não te pegou ainda. Mas ele vai pegar.
- Olha, sinceramente, acho difícil que Jesus vá me pegar. Mas sabe o que eu acho curioso? Que eu não queira tirar a sua fé, mas você queira tirar a minha não fé. Eu não acho que você seja pior do que eu por ser evangélico, mas você parece achar que é melhor do que eu porque é evangélico. Não era Jesus que pregava a tolerância?
- É, talvez seja melhor a gente mudar de assunto…
O taxista estava confuso. A passageira era ateia, mas parecia do bem. Era tranquila, doce e divertida. Mas ele fora doutrinado para acreditar que um ateu é uma espécie de Satanás. Como resolver esse impasse? (Talvez ele tenha lembrado, naquele momento, que o pastor avisara que o diabo assumia formas muito sedutoras para roubar a alma dos crentes. Mas, como não dá para ler pensamentos, só é possível afirmar que o taxista parecia viver um embate interno: ele não conseguia se convencer de que a mulher que agora falava sobre o cartão do banco que tinha perdido era a personificação do mal.)
Chegaram ao destino depois de mais algumas conversas corriqueiras. Ao se despedir, ela agradeceu a corrida e desejou a ele um bom fim de semana e uma boa noite. Ele retribuiu. E então, não conseguiu conter-se:
- Veja se aparece lá na igreja! – gritou, quando ela abria a porta.
- Veja se vira ateu! – ela retribuiu, bem humorada, antes de fechá-la.
Ainda deu tempo de ouvir uma risada nervosa.