sábado, 8 de março de 2014

Diego para as mulheres



DIEGO É UM HOMEM AOS TRANCOS E BARRANCOS.
Sim, um homem aos pedaços. Que parece lutar diariamente para juntar os cacos e tentar formar algo que tenha serventia, que não vaze o conteúdo. Diego é, acima de tudo, um lutador.

Quando vejo Diego, parece-me que estou vendo um filme de Martin Scorsese. O cineasta americano, melhor do que ninguém, consegue pôr na telona vários homens bem ou mal sucedidos que tentam humilhantemente disfarçar a fragilidade emocional que habita em cada um. Não é a frieza dos homens de Clint Eastwood, nem a amargura dos westerns de Sergio Leone. Os homens de Scorsese são aqueles que lutam contra eles mesmos, para não enfrentarem o poço de insegurança que na verdade são. Tentar entender Diego é mergulhar nos ringues onde Jake LaMotta (Robert DeNiro em Touro Indomável) preferia lutar contra adversários físicos do que enfrentar sua angústia de existir para além da luta. Não à toa, a “droga” de LaMotta era fama e o dinheiro proveniente de suas lutas (mera coincidência com Diego?). Tentar entender Diego é embarcar numa viagem tresloucada pela megalomania de Howard Hughes (Leonardo DiCaprio em O Aviador), tão garboso e elegante que mal se continha na sua mente a sanha por se limpar, se limpar, se limpar....Do que se limpava o Sr. Hughes? O que havia de tão sujo no Aviador que o fez quase chegar à loucura? (O que há de tão obscuro em Diego, que o empurra a dormir, dormir, dormir.....mera coincidência?).

Na final do BBB11, quando Bial se referiu a Wesley, disse-lhe que para o médico que enfiava as pestanas nos livros de medicina, faltava uma lição: a lição de rua. Não se dá pra falar o mesmo de Diego. Em matéria de “LIÇÃO DE RUA”, Diego tem mestrado e doutorado. Caminhou por vias tortas e por poucos momentos, teve os pés calçados. Diego então ficou calejado. Até demais. Cheio de cicatrizes, Diego aprendeu a se esconder. Aprendeu que a única defesa que lhe cabia em um mundo cão, como ele viveu, é o silêncio, o escamoteamento das emoções, do desejo de felicidade e crescimento pessoal. Diego é um ouriço. Dócil até a página 2. Criar intimidade com o ouriço pode trazer a falsa segurança da aproximação. E quando nos aproximamos sem aviso prévio do ouriço....

Falar do Diego que está no BBB é pensar sobre como o passado engendrou aquela gelatina emocional escondida em espinhos. E essa análise passa obrigatoriamente pela escolha às drogas que Diego fez um dia na sua vida. Muitos estudiosos do comportamento defendem que as toxicomanias supõe para o dependente químico, uma organização narcisista muito primitiva, caraterizada pela indiferenciação entre o que é Eu o que é objeto, aproximando a toxicomania da simbiose, do autismo, etc. Trata-se de conservar o princípio do prazer e de defender os objetos da intromissão da realidade externa. Na história real do toxicômano, é muito comum existir um vínculo frustrante com a mãe (ou quem cumpriu essa função) em períodos muito precoces da vida. Essa carência real corrobora uma vivência de mãe interna INTOLERANTE à mudanças de humor do filho: o bebê aprende a se satisfazer com substitutos do seio materno, MAS SEM ELABORAR UM LUTO PELO SEIO MATERNO PERDIDO. 

Não sei como foi a relação do menino Diego com seus pais para hipotetizar a situação acima. Mas a melancolia presente em Diego, a defesa que ele levantou em relação às sua intimidade e passado, e claro, seu histórico de dependência química, são evidências que apontam para uma direção: Diego sempre buscou a mãe em todas as suas relações; sempre desejou por alguém que VERDADEIRAMENTE CUIDASSE dele, alertasse para suas falhas, protegesse o menino Diego. A droga, pode sim, sem problemas, servir como uma substituta da mãe acolhedora e satisfatória que Diego sempre desejou. Talvez ele teve essa mãe, mas por pouco tempo.

Outra questão que é possível de ser levantada na relação de Diego com as drogas é da identificação com o resto. Muitos toxicômanos deixam a droga instalar-se em suas vidas na função de regente. O toxicômano toma a droga primeiramente para se sentir rei, mas termina em seguida por confundir-se com ela. O dependente não deseja a morte com seu vício, e sim aponta para a podridão, a solidão, o resto.

Muitas vezes, falar do passado, deixar que o outro encontre suas emoções e subjetividades, traz a Diego a terrível sensação de ser identificado como merda, como podre, como droga. Muitas vezes, o sujeito usa drogas pelo simples motivo de querer sinalizar para o mundo que se identifica com aquele significado.  Diego tem medo dos piores adjetivos. Diego tem medo do julgamento alheio. E tudo que fez e ainda faz (evidenciado por sua rotineira rispidez) sinaliza as tentativas dele de esconder esse temor. A abstinência não apaga tão facilmente a identificação com as drogas, não pelo uso em si, mas pelo significado e forma de atuação no psiquismo. Afinal, Freud no seu “Mal-estar Na Civilização” já afirmara que o uso das drogas é uma tentativa de solução para o mal-estar, uma forma torta de responder ao sofrimento causado pela civilização. O uso das drogas não aponta causas, aponta CAMINHOS, os possíveis de o sujeito conseguir andar.

Diego resiste a toda forma de intimidade, mas quando alguém insiste nesse sentido, ele mescla seu comportamento entre o tapa e o carinho. Assim foi com Franciele. Guerreira e persistente, Franciele aguentou bravamente os ímpetos agressivos de Diego e, em troca, obteve seus carinhos. Diego e carinhos? Como assim?

Sim, carinhos. DO JEITO QUE ELE APRENDEU, Diego soube sim demonstrar afeto por Franciele. Soube sim se mostrar íntimo com aquela que resistiu bravamente a sua agressividade. Assim, Franciele, por incrível que pareça, trazia controle a Diego, trazia uma paz, breve, mas necessária.

Diego é fiel aos seus amigos e seus ideais. Caminha com com muito jogo de cintura por entre as intrigas dos demais e não se perde com as fofocas da casa. Sabe, talvez pela via mais dolorosa, que boca fechada não entra mosquito.  Diego caminha no fio da navalha, entre a opção necessária de se manter controlado e submisso ao silêncio e a liberdade desenfreada de sentir prazer. Um prazer que lhe remete à formas obscuras de satisfação. Mas Diego não esconde o apreço pela liberdade de ser. A pipa que fez é o maior símbolo disso. A pipa simboliza o que Diego sempre desejou a sua vida: brisa!

Eu gostaria muito que uma parceria se consolidasse naquela casa: DIEGO E MARCELO. Por incrível que pareça, eu acredito que ambos têm muito a ensinar e aprender um com o outro. De formas opostas, ambos demonstram suas fragilidades, suas dores e suas entranhas. Ambos se jogaram de corpo e alma nesse BBB, talvez os únicos. Se Marcelo se expôs da forma mais aberta possível ao se humilhar para obter o mínimo de satisfação num relacionamento, Diego se expõe pela via contrária: sua tentativa de se esconder embaixo da agressividade e ignorância explícita, ele só mostra o quão destrambelhado e analfabeto emocional é. Marcelo se entrega pela inocência. Diego, pela ignorância. Marcelo se entrega pela moleza. Diego, pela dureza. Na cena de ontem, quando Diego estava ajudando Marcelo a “destrinchar um frango”, havia tanta conexão entre os dois, havia tanto esforço de um e de outro para que pudessem se comunicar no mesmo nível. E conseguiram. E foi bonito de ver. Pois não é nas cenas de impacto, nos momentos de stress ou escolha, que se consegue analisar eficientemente um comportamento. É na rotina, nas cenas mais triviais, naquelas que independem de raciocínio, de planejamento.

Diego é um homem aos trancos, aos barrancos, aos gritos, aos silêncios, aos cacos.....só quer buscar a liberdade boa de sentir, só quer ter um pouco de brisa. Só quer soltar sua pipa. Bons ventos é o que desejo para Diego.

POST: Leonel Bickle 
PARABÉNS MULHERES!!!!!!!!




Ilustração Pontinho

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