Para quem diz que não tem estômago |
Nunca assisti, e espero nunca mais ter a oportunidade de assistir, uma edição de BBB tão pobre, desde a seleção dos participantes até o trabalho da direção. Vimos erros crassos em big fone, em provas, descaso com relação ao cumprimento de regras básicas por parte dos participantes (sussurros e microfones cobertos, por exemplo), ausência de qualquer providência que pudesse tornar o jogo ao menos palatável.
Fico me perguntando o porquê dessa falta de cuidado, desse desinteresse por parte da direção. Estarão eles tão decepcionados quanto nós pela escolha do elenco? Já faturaram o bastante para não se importarem mais com a constante queda de audiência? Estarão, assim como muitos de nós, ansiosos pelo término dessa edição, que se configura como uma malfadada novela reprovada pelo público?
Ah, antes fosse uma novela! Os autores receberiam ordens para encurtá-la rapidamente. Ao ler sobre intenções do Boni em promover um paredaço, imediatamente me lembrei de uma interessante obra de Mário Vargas Llosa, “Tia Julia e o escrevinhador”, em que um roteirista de novela radiofônica, preso nas redes de uma trama cujo desenrolar lhe escapava, resolveu promover uma viagem de avião com todo o elenco a bordo e, gloriosamente, antecipar o fim da novela e de seu desespero autoral com um acidente fatal.
Com que prazer sádico, ouso dizer, daria fim a esse martírio colocando todo o elenco a bordo de um avião que tivesse o mesmo destino trágico. Mas não! Jamais! Não estamos falando de personagens fictícios. Falamos de pessoas, todas elas com problemas particulares, erros, acertos, dificuldades de comunicação e interação com os demais, desconfianças, inseguranças e medos. Já não me sinto motivada e nem em condições de criticá-los.
Credito à homogeneidade do elenco essa ânsia da fofoca e da intriga que os move. Como criticar frente a frente erros e falhas de comportamento que, consciente ou subconscientemente, reconhecemos em nós mesmos? Mais fácil é falar daquele com aquela e daquela com o outro, buscando amparo e apoio para nossas próprias mazelas.
Não culparei os jogadores ou o juiz. Desta vez, o culpado é verdadeiramente o técnico, que escalou todos os jogadores com características praticamente idênticas. A nós, na arquibancada, resta ficarmos entediados assistindo esse joguinho de terceira divisão ou sairmos antes do final.
Não temos mocinhos e nem vilões. O BBB 14 não nos deixará heróis como lembrança. Ficaremos com o grito de gol preso na garganta ao final do campeonato, porque o time, temeroso, descuidou-se do ataque frontal e limpo e se fechou na defesa, uma defesa sem estrutura, sem organização, recheada de comodismo, intrigas e covardia.
POST DE: KARMEM MYR
O que Nós Vemos das Cousas São as Cousas
O que nós vemos das cousas são as cousas.
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma seqüestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores.
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIV"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma seqüestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores.
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIV"
Heterónimo de Fernando Pessoa