segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A Águia e o FranGO




Leonardo Boff afirma, no livro a Águia e a Galinha, que "todo ponto de vista é a vista de um ponto".

O autor discorre sobre o tema explicando que para se entender como uma pessoa lê tem-se que levar em consideração as experiências e a visão de mundo desta. Ou seja, "toda leitura é uma releitura".

Felizmente a posição do público de BBB é privilegiada. Os fãs do programas acessam diversas informações e assistem diversas câmeras para entender o comportamento dos confinados. Assim, os telespectadores encontram-se, em última análise, em um panóptico de Michel Foucault do qual pode exercer vigilância e o controle punitivo das ações dos participantes.

Inacreditavelmente, em cada edição do programa encontramos "brothers" que pensam estar nesse panóptico foucaultiano e tentam exercer o controle social dos seus colegas de confinamento. Esses participantes sem informação suficiente e, na maioria das vezes, com um comportamento ditatorial e arrogante, candidatos a Big Brother de George Orwell, têm o público como o seu carrasco executor que aplicará o suplício merecido, como relatado no livro "Vigiar e Punir" de Foucault.

Nesse paredão o punido foi a bailarina nordestina Bella. Ela cometeu o pecado mortal de destacar-se em um "elenco" pouco consistente fruto de um isomorfismo mimético, de DiMaggio e Powell, dentro dos BBBs. Esse mimetismo é fruto da inexistência de uma fórmula mágica para a vitória que obriga os confinados a encontrarem um modelo padrão de ação em conformidade com as edições passadas.

Certamente é impossível encontrar o verdadeiro motivo que levou ao público eliminar a bailarina. Motivos ela deu para entendermos sua rejeição. Todavia seu oponente, personagem Diego, é dotado de um desvio de personalidade, potencializado pela abstinência de nicotina, tão grande, ou até maior, quanto o da eliminada. Ressalta-se que a maior parte do público acompanha o jogo sob os olhos da produção do programa que faz uma narração própria dos acontecimentos e publica nas conhecidas edições.

Enquanto isso a casa era dona de um ponto de vista diferente do público e entendiam que Diego era o principal agente de conflitos do grupo. Vale salientar que muito dessa opinião era fruto de uma ação massiva de convencimento da Bella.

Nas redes sociais um movimento de fãs do namoro de Diego e Fran criou o apelido Fran-Go para o casal. Para esse grupo específicos todos os pecados da dupla são perdoados e são apenas efeitos colaterais do confinamento.

Dessa forma a leitura do jogo vai sempre depender de um contexto muito amplo com variáveis que não se pode controlar. Não existe cartomante que faça previsão dos próximos capítulos. A lição desse paredão é que toda verdade é um ponto de vista, e todo ponto de vista é de um parte e não do todo.

Na hipótese de a casa continuar a centrar seus fogos no casal FranGO, insistindo que eles alcem voo rumo a liberdade é possível que o casal FranGO se transforme em águias e vençam essa edição.

Poema em Linha Reta
Fernando Pessoa (Álvaro Campos)


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me

confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.



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