sábado, 23 de janeiro de 2016

O Argemiro do BBB16


"Se não entendo tudo, devo ficar contente com o que entendo. E entendo que vejo estas árvores e que tenho direito a minha língua e que posso olhar nos olhos dos estranhos e dizer: não me desculpe por não gostar do que você gosta; não me olhe de cima para baixo; não me envergonhe de minha fala; não diga que minha fala é melhor do que a sua; não diga que eu sou bonito, porque sua mulher nunca ia ter casado comigo; não seja bom comigo, não me faça favor; seja homem, filho da puta, e reconheça que não deve comer o que eu não como, em vez de me falar concordâncias e me passar a mão pela cabeça; assim poderei matar você melhor, como você me mata há tantos anos."
Vila Real(1979)
Trecho do livro Vila Real (1979) de João Ubaldo Ribeiro

Hoje vou viajar um pouquinho (COELHO DESDE QUANDO PAROU DE VIAJAR E DE FUMAR CENOURA VENCIDA?)

----->Aff! Esse Leão não me deixa em paz<-------

Vou buscar em João Ubaldo Ribeiro (coincidentemente em seu aniversário de morte), no livro Vila Real (1979) a personagem Argemiro, que lidera sua gente, contra o povo de  Genebaldo e Godofredo.

O primeiro paralelo entre nosso brother e o heroi de Ubaldo: os dois não entendem a guerra que estão travando e seu papel de líder inato.

* Alan é o foco das câmeras da casa mais vigiada do Brasil (adoro essas frases feitas e bregas) - talvez o jogo gravite na pessoa dele por falta de conteúdo dos outros (Ana Paula parece exceção) ou porque fala mais do que o homem da cobra.

Alan é o Adrilles sem o refinamento e a cultura geral. Assim como o poeta de 2015 os dois caminham na corda bamba sobre um precipício que pode despertar o ódio insano das torcidas aqui fora.

* Alan fala demais - na mesma linha atrai os olhos de vidro e os microfones para ele. Como tese desse coelho (soa preconceito) acredito que a sonoridade do nosso sotaque estridente nordestino incomoda muito àqueles que não estão acostumados a ouvir algo diferente de poorrta ou o chiado da exxxxquerda. A própria Mariza foi picada por esse mal nas redes sociais ano passado.

Além disso, falar demais estatisticamente significa falar mais besteira que a maioria (eita me veio na cabeça a diferença entre perigo e risco). Assim existe um risco de 100% que se queime com a torcida dos casais de BBB passados (TALICKS E FERNANDO E ALINE - demorei a lembrar kkkk) depois que detonou Talita e Fernando.

O segundo paralelo é uma viagem ainda maior: Tanto Argemiro quanto Alan vivem sob uma tensão entre o eu e o outro que aparece a medida que os dois são suportados por seu grupo de conivência e complementariedade ou desafiados por uma força opressora, que, no caso de Alan é a produção do programa.

Entretanto nesse contexto cabe a justaposição das duas personagens: o Ubaldiano precisava lutar contra sua condição de pobre e ignorante enquanto o brother é desafiado a sentir-se parte do grupo apesar de seu profundo conhecimento de Heidegger (não que isso seja grande m...., mas já é um balde cheinho) e a segregação natural do incomum no meio mimético de um BBB.

Na sequência do livro e do BBB você percebe que nossos líderes superam seus complexos complexos de inferioridade/superioridade e descobrem ou demonstram suas qualidades humanas ao perceber o que os outros pensam deles e entender o outro.

Alan desce do pedestal de chatice que foi construído pelo público por sua incontrolável tagarelice ao reconhecer que o preconceito sobre a fraqueza de Maria Cláudia  foi desfeito ao descobrir a moçoila perdeu o pai há menos de 2 meses. - E tenho que bater palmas a moça falou do pai e tentou desvincular de papel de coitadinha, engolindo o choro.

Realmente não gosto de personagem que chora que Amandiza o jogo pelo coitadismo. Mas admito que o choro de Alan foi meio que lavador de almas. Ou o potiguar é um ator digno de Oscar ou realmente ele demonstrou o remorso de agir da mesma forma que todos agiam com ele em toda sua vida.

Não sou LEO - CAPS mas vou me atrever a analisar a personalidade de Alan. Alan é um sujeito muito tímido que tem problemas de convivência e tende a isolar-se para evitar contato social. Entretanto seu lado guerreiro o obriga a conviver para garantir oportunidades. E esse é, talvez, o motivo de falar tanto e criar uma personagem na sua vida: O FALSO EXTROVERTIDO. Esse comportamento muitas vezes aparenta ser invasivo e é carreado por um humor cáustico, geralmente, incompreensível para as outras pessoas. Você se torna o centro das atenções para evitar que a timidez seja percebida. E para o prego que se destaca, martelo na carcaça.

Tenho a nítida impressão que ele estará no paredão formado no próximo domingo. Na primeira semana ele deveria ter preferido a imunidade...se tiver tempo e a língua dele permitir pode tornar-se um destaque na competição.


"Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo"
João Ubaldo Ribeiro


PS.: O Urso vai puxar o freio de mão com a cutucada do Bial

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