terça-feira, 4 de março de 2014

O que fazemos com as pedras em nosso caminho?




Ângela, como eu torci pra vc. Ângela, como eu quis sua vitória antecipada no jogo. Como eu me regozijei de vc desmanchando Júnior e Letícia em seus emocionados, sólidos e sinceros argumentos de que vc, DE FATO, era a maior vítima dos dois. Como sua inteligência me fez crer que, pela primeira vez, uma mulher poderia vencer PURA E TÃO SOMENTE pela sua capacidade de pensar racionalmente na construção do seu jogo. Mas havia uma pedra no caminho. UMA NÃO, TRÊS. E além das pedras, havia uma corda que te alçaria novamente para longe do lamaçal que vc havia se metido. E o que vc fez? E o que vc faz?
A psicologia sabidamente ensina que nenhuma pessoa pode ser explicada, diagnosticada, analisada e principalmente, AJUDADA, se não virmos essa pessoa em um sistema relacional. As pessoas se tornam PESSOAS quando estão em relação e podem escolher se desenvolver ou involuir nessas relações. Assim, eu tento esmiuçar Ângela na sua relação com as três pedras e a corda.

a)A 1ª pedra -> JÚNIOR. Ângela realmente se encantou pelo cabra. Nos primeiros instantes, começaram a proliferar de todas os becos da NetBBB as ditas caprichetes pelo casal. Com Ângela esbanjando simpatia e desenvoltura no jogo, ela estava com a faca e o queijo. Ângela, de fato, SE APAIXONOU por Júnior. E não foi à toa. Júnior, como todos sabem, se revelou um safado e de conduta amorosa questionável. Ao contrário do que suas palavras diziam, Ângela só fazia se envolver mais e mais por aquele homem. Mesmo que os corpos estavam separados, Ângela depositava todo seu desejo naquele comportamento cafajeste de Júnior.

Quantas vezes Ângela vociferou que só se relacionava com homens cafajestes? E que Júnior não fugia a regra?

Pois é, olhando para a resolução edípica da Ângela, eu suponho que ela nunca deixou de ser a menininha do papai. A menininha que se apaixonou perdidamente por um pai tão sedutor a ponto de ela transferir essa figura ideal para todas as relações com o sexo oposto que ela viria a ter no futuro. Homens sedutores, na sua maioria, possuem as armas mais eficazes do flerte para ter POSSE sobre suas conquistas. E quem tem posse, tem o poder de DESCARTAR quando bem quiser. Basta que sua capacidade de sedução seja posta em um novo desafio. Assim foi com Júnior, quando Letícia cruzou seu caminho.

Ângela não se desligou do seu pai e possui uma séria miopia com o sexo oposto, porque se deixa levar pela figura paternal sedutora que pode amá-la, mas não consegue enxergar que se torna DESCARTÁVEL.

Assim, a primeira pedra no caminho de Ângela a fez tropeçar humilhantemente nas contradições que ela demonstra quando se apaixona.
b)A 2ª pedra -> LETÍCIA. Quando tento enquadrar a relação que surgiu entre Ângela e Letícia, me vem à cabeça, o belo filme de Milos Forman, AMADEUS. Na história, Antonio Salieri é um sábio e competente compositor da corte do Império Romano, quando surge Amadeus Mozart, um jovem de conduta desafiadora, livre, transgressor e desmedido na sua empáfia. Com o tempo passando, Mozart só mostra o quão genial é, na mesma proporção em que cutuca a inveja e amargura de Salieri.

Mozart é como Letícia, claro guardadas as proporções. Sua liberdade em conquistar o homem que quisesse, sua capacidade de NÃO se envolver afetivamente, a maneira como ela se relacionava com seu corpo, sem nenhum tipo de convenção, etc, provocou em Ângela a INVEJA. Sim, inveja. Letícia expôs em praça pública todos os pecados íntimos de Ângela e, pior, expôs PARA ÂNGELA, roubou-lhe o homem que ela havia pintado em seu inconsciente, como seu pai, aquele do passado, tão acessível e sedutor.

Em conversa com a Íris, mais cedo, eu disse que TODOS NÓS em alguma medida, temos RECALQUE, pq este é o mais básico e comum dos mecanismos de defesa da nossa subjetividade. Não escapamos dele. Ângela não escapou dele. A DIFERENÇA ESTÁ NO CAMINHO QUE DAMOS AO NOSSO RECALQUE> podemos usar esses momentos como uma chance de olhar pra dentro e descobrir o que há no outro das minhas projeções, que ele tem e que eu gostaria de ter, mas não desenvolvi. E assim, evoluímos, porque há em todo ser, as mais variadas capacidades e qualidades humanas (Jung definiu isso de inconsciente coletivo – a casa de todos os arquétipos (ou funções humanas) que mora em todos os homens) e estas são ativadas NA RELAÇÃO. 

Entretanto, o outro caminho que podemos dar ao nosso recalque é o da INVEJA> eu odeio todos aqueles que possuem algo que é mal resolvido em mim e não consigo ir além. Assim, tento destruir esse outro, porque se eu não tenho, ele tbm não será digno de ter.
Assim, a segunda pedra no caminho de Ângela a fez tropeçar na inveja. Letícia, de uma forma ou outra, encarnou no inconsciente de Ângela a figura da sua mãe, a traidora que lhe roubou seu pai perfeito, que lhe roubou sua condição de filhinha do papai. Mais uma vez, um Édipo não resolvido.
c)A 3ª pedra -> ALINE. A inveja cegou Ângela e fez sua inteligência se afogar em meio a tanta raiva e amargura. Se tornou presa fácil para Aline e seu poço de insegurança. Ângela viu em Aline o eco de sua raiva. Ângela viu em Aline a extensão de sua solidão (a solidão de ser abandonada pelo papai Júnior). Ângela SÓ NÃO VIU o quanto Aline é mais raivosa e amargurada que ela mesma. Ângela SÓ NÃO VIU o quanto Aline pode enxergar nas migalhas que lhe são oferecidas, uma oportunidade de ouro para se transformar em PARASITA. Sim, Aline é uma parasita que, ao receber uma mão auxiliando, quer todo o corpo e mesmo assim não basta. Porque sua insegurança é enorme e se tornou impeditiva para ela se desenvolver. Aline responde ao mundo com amargura pela condição que se encontra. E sempre esperou de Ângela a mesma devoção. Mas Ângela, cegada por Letícia, foi incapaz de perceber a cilada. E na primeira oportunidade em que não respondeu à altura do que Aline queria, Ângela sofreu as consequências de quem pensa que seus problemas pessoais são culpa de qualquer coisa, menos dela.

Assim, a terceira pedra no caminho de Ângela a fez tropeçar feio na sua pretensão de acabar com Letícia. Aline habilmente afogou a percepção de Ângela. Aline habilmente consegue ter as pessoas em suas mãos a medida em que estas deixam escapar suas dificuldade e inseguranças. Porque Aline sabe melhor do que ninguém, o que é conviver com inseguranças que mais se parecem com demônios.
d)     A corda -> MARCELO. Marcelo estendeu a mão pra Ângela. Marcelo se ofereceu como escravo amoroso para Ângela. Marcelo se ofereceu para ser as migalhas de Ângela. Marcelo CUIDOU E CUIDA de Ângela (independentemente do que as pessoas aqui fora achem disso). Ele cuida e ponto final. E Ângela? Claramente, sem delongas, ELA TEM NOJO DELE. Tem nojo de um homem que não consegue estar à altura do seu pai ideal. Tem nojo de um homem que subverte a lógica e ele se torna o esteio emocional do casal enquanto sobra pra ela, a liderança e racionalidade. Ângela se negou a sair do chão, derrubada por Letícia, Júnior e Aline, porque sair do chão lhe exigiria se reinventar. Lhe exigiria olhar pra dentro e refletir o que está acontecendo de errado. E nós sabemos que isso é difícil. Mas é necessário se quisermos experimentar um pouco de genuína felicidade. Ou tranquilidade.

Não, não é fácil para Ângela ser Ângela. Não é fácil se desligar de um passado fantasioso que se manifesta no presente. Não é fácil reinventar seu homem ideal. Não é fácil enterrar o pai sedutor. Mas esse é o preço para Ângela respirar. Ou ela vai continuar apenas sobrevivendo sem um sorriso digno no rosto.


Termino com uma das mais lindas canções da história, Like a Rolling Stone, do Bob Dylan. Acho que essa canção cabe como uma luva para Ângela.

“You never turned around
to see the frowns on the jugglers and the clowns
When they all did tricks for you
You never understood that it ain't no good
You shouldn't let other people
get your kicks for you
You used to ride on the chrome horse
with your diplomat
Who carried on his shoulder a Siamese cat
Ain't it hard when you discover that
He really wasn't where it's at
After he took from you everything he could steal”

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