terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

BBB desvairado

A Boba, de Anita Mafaltti
Nesse BBB14 o jogo está desvairado nada se encaixa ou tudo está totalmente encaixado.
Temos uma torcida maluca que comanda as ações e que de tão esdrúxula parece-me orquestrada.
Erros bobos que mais parecem camuflagem para acertos toscos na condução do jogo.
Busca-se uma rima ou um enredo no meio de um caos mas o que encontramos é um texto pronto.
Um casal que se destaca, ou é destacado, parece ter saído do filme " Os fantasmas se divertem".
Não tem poesia nesse jogo e, pior, falta sangue nos olhos dos participantes para virar prosa.

Nesse paredão cravo o fim do Capitão Caverna, graças a Boba torcida do contra, e um racha de verdade na casa (tomara!). O Pato Donald assumirá o papel prepotente de um General de pijamas e levará seu grupo, com a ajuda de Vanessa, para o precipício! (Coelho se cala! Você nunca acerta!)

Depois disso não poderia deixar passar...uma homenagem a Caio Fernando Abreu e a Mário de Andrade...que se foram em um dia 25 de fevereiro.

Na obra dos dois talvez consigamos encontrar algumas respostas para a nossa pergunta: "Por que eu assisto BBB?"



Post Interessantíssimo

Está fundado o Desvairismo. 
  
Este post, apesar de interessante, inútil. 
  
Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões. Para quem me aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão o prazer em descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para que me rejeita trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou. 
  
Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste Post Interessantíssimo. 
  
Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a seriedade. Nem eu sei. 
  
E desculpem-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. Sou passadista, confesso. Ninguém pode se libertar duma só vez das teorias-avós que bebeu; e o autor deste livro seria hipócrita si pretendesse representar orientação moderna que ainda não compreende bem. 
  
Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o futurismo. Oswald de Andrade, chamando-me de futurista, errou. A culpa é minha. Sabia da existência do artigo e deixei que saísse. Tal foi o escândalo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso. Quis sair da obscuridade. Hoje tenho orgulho. Não me pesaria reentrar na obscuridade. Pensei que se discutiram minhas idéias (que nem são minhas): discutiram minhas intenções. Já agora não me calo. Tanto ridicularizaram meu silêncio como esta grita. Andarei a vida de braços no ar, como indiferente de Watteau. 
  
Um pouco de teoria? 
Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas sílabas, com acentuação determinada. 
  
A inspiração é fugaz, violenta. Qualquer empecilho a perturba e mesmo emudece. Arte, que, somada a Lirismo, dá Poesia, não consiste em prejudicar a doida carreira do estado lírico para avisa-lo das pedras e cercas de arame do caminho. Deixe que tropece, caia e se fira. Arte é mondar mais tarde o poema de repetições fastientas, de sentimentalidades românticas, de pormenores inúteis ou inexpressivos. 
  
Que Arte não seja porém limpar versos de exageros coloridos. Exagero: símbolo sempre novo da vida como sonho. Por ele vida e sonho se irmanaram. E, consciente, não é defeito, mas meio legítimo de expressão. 
  
"O vento senta no ombro das tuas velas" Shakespeare. Homero já escrevera que a terra mugia debaixo dos pés de homens e cavalos. Mas você deve saber que há milhões de exageros na obra dos mestres. 
  
[...]Donde infiro que o belo artístico, tanto mais subjetivos quanto mais se afastar do belo natural. Outros infiram o que quiserem. Pouco me importa. 
  
O impulso lírico clama dentro de nós como turba enfuriada. Seria engraçadíssimo que esta dissesse: "Alto lá! Cada qual berre por sua vez; e quem tiver o argumento mais forte, guarde-o para o fim!" A turba é confusão aparente. Quem souber afastar-se idealmente dela, verá o impotente desenvolver-se dessa alma coletiva, falando a retórica exata das reivindicações. Minhas reivindicações? Liberdade. Uso dela; não abuso. Sei embricá-la nas minhas verdades filosóficas e religiosas, não convencionais como a Arte, são verdades. Tanto não abuso! Não pretendo obrigar ninguém a seguir-me. Costumo andar sozinho. 
  
[...] 
  
Marinetti foi grande quando redescobriu o poder sugestivo, associativo, simbólico, universal, musical da palavra liberdade. Aliás: velha como Adão. Marinetti errou: fez dela sistema. É apenas auxiliar poderosíssimo. Uso palavras em liberdade. Sinto que meu copo é grande demais para mim, e inda bebo no copo dos outros. 
  
[...] 
  
Harmonia: combinação de sons simultâneos. 
Exemplo: 
"Arroubos.. Lutas... Setas... Cantigas... Povoar!..." 
Estas palavras não se ligam. Não formam enumeração. Cada uma é fase, período elíptico, reduzido ao mínimo telegráfico. 
[...]

Assim, no "BBB Desvairado" usam-se o verso melódico:
 
"Big Brother é um palco de bailado russos"; o verso harmônico: 

"A cainçalha... A Bolsa... As jogatinas..." e a polifonia poética (um e às vezes dois e mesmo mais versos consecutivos): "A engrenagem trepida... Abruma neva..." Que tal? Não se esqueça porém que outro virá destruir tudo isto que construí. 
  
Pronomes? Escrevo brasileiro. Si uso ortografia portuguesa é porque, não alterando o resultado, dá-me uma ortografia.

[...]
  
Mas todo este post, com todo a disparate das teorias que contém, não vale coisíssima nenhuma. Quando assisto BBB não penso em nada disto. Garanto porém que chorei, que cantei, que ri, que berrei... Eu vivo! 
  
Aliás versos não se escrevem para leitura de olhos mudos. Versos cantam-se, urram-se, choram-se [...]

E está acabada a escola poética "Desvairismo".

Próximo livro fundarei outra.

E não quero discípulos. Em arte: escola=imbecilidade de muitos para vaidade dum só. 
Poderia ter citado Gorch Fock. Evitava o Prefácio Interessantíssimo. "Toda canção de liberdade vem do cárcere".

Pequena adaptação do "Prefácio Interessantíssimo" de "Paulicéia Desvairada" de Mário de Andrade

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