quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Homem com H



Antes de falar da eliminação é importante destacar a personagem de Roni dentro do jogo.

A trajetória do Super Roni pode ser dividida em 2 momentos bem claros: Roni - o Amado e Roni - o Ditador. E quando acontece essa mudança?

Nos primeiros dias de jogo Roni e seus dotes culinários e estéticos, além de uma disposição sem fim para ajudar encanta as moças da casa. As mulheres o paparicam em busca de atenção e ajuda. O garoto é uma unanimidade na casa.

Mantém uma relação de estreita amizade com Aline, mas se enamora de Tatiele em uma festa. A garota na mesma festa se arrepende, pois queria "ficar" com Diego. Mas o romance engatou sem volta. Mesmo assim Aline e Roni continuaram como se solteiros fossem.

Durante um jogo da verdade a caçadora de machismo, Bella, pergunta a Roni se ele deixaria Tatiele ficar sentando no colo dos outros rapazes, assim como Aline fazia com ele. Ele respondeu que não e ali começava a nascer um rótulo machista no garoto.

Porém, Roni continuava a limpar, cozinhar e lavar como um verdadeiro dono de casa. Além disso era responsável por depilar e fazer as sobrancelhas das meninas com linha quando era solicitado. E como era solicitado! Até aí era quase um intocável, haja vista que todas as recalcadas dessa edição nutriam por ele uma simpatia "gratuita".

[off-topic - Nunca vi uma edição com tanta mulher recalcada junta. Cada uma escondendo-se atrás de uma máscara de hipocritamente correta, de libertária preconceituosa e até mesmo de donas da verdade divina.]

Roni pintava, bordava, cortava o cabelo deles(as) e liderava sua equipe para as vitórias nas provas da comida. Uma jornada vitoriosa para o nosso herói que até aí era chamado de "Super".

Mas Bones não estava contente com o rumo dessa personagem e resolveu destruir a fonte do amor "gratuito" que as cobras, (ops!) mulheres do BBB sentiam pelo "brother". Boninho libera a pinça e o barbeador. No mesmo dia as najas, (ops!) as gatas já disparam: agora Roni já pode ir para o paredão.

Sua melhor amiga, Aline, ganha a prova do anjo e entrega para Valter em detrimento dele. Porque nessa altura do campeonato Bella pregava seu catecismo de anti-machismo persecutório. A atitude de Aline desencadeou um ressentimento e praticamente a dissolução dessa amizade.

O jogo continuou e Roni assumiu cada vez mais o papel de líder, síndico ou sargentão (como quiserem). Mas as vitórias na prova da comida não vieram e seu humor na Sibéria se deteriorava.

Sua relação com Tatiele, como a mesma definiu durante o paredão, era de namorado, amigo e pai. O pai era o que mais se destacava e sua sinceridade na relação despertava nas recalcadas os piores sentimentos. "Ai, que absurdo meu! Ele falando das celulites da menina.". Como a Aline falou isso para Tatiele não representava nada, porque ela tem a autoestima alta.

É aí que entra o X da questão. Roni sempre capitaneou grupos de modelos e conviveu com homens e mulheres distante de casa. Seu senso de preservação do grupo é extremamente aguçado, como demonstrou com atitudes de lealdade com Marcelo e Letícia. Além do que, o convívio com mulheres modelos quebra o preconceito homem-mulher e ele trata com a mesma sinceridade que tratasse com outro homem. E chama a atenção de celulites e afins para que as garotas se preocupem em cuidar da estética (elas vivem disso).

Mas até agora isso não significou nada. A pá de cal na história do Super se deu quando apoiou Letícia durante a execração pública realizada pela tropa das recalcadas, fingidas e fofoqueiras. Ali nascia um emparedado.

Não me interessa aqui julgar as atitudes do Roni. O seu comportamento é fruto de suas experiências pessoais de vida e seus valores. Valores esses que Bial descreveu como "uma cartilha de princípios inscrita no gelo" e que Ângela entendeu como ultrapassados e que eu entendo como valores. Lealdade e integridade devem ser aplaudidos mesmo por linhas tortas.

Abre-se também, no entorno, uma discussão desnecessária sobre a sexualidade do Super Roni. Discussão além de espúria é contraditória, porque nasce daqueles que rotulam as pessoas como algum tipo de "...ista" que lhe agrade.

Aí respondo para Bial: "O que é pior: homem machista ou homem feminista? O que faz de um sujeito, homem? Pipa ou pinça?". Coragem de errar tentando fazer o seu certo para ajudar os outros.

Enfim, Roni - o Grande merece nossos aplausos por sua trajetória, no mínimo coerente, talvez com ações exageradas, mas fruto de uma paixão e uma coragem presentes em poucos participantes que pisaram no BBB. Um homem com H!

Enquanto isso ficamos com as recalcadas e os covardes no BBB14. Então, Bial?

Vem ser esse Homem lindão aqui fora, Roni!

PS.: O melhor desse paredão foi mostrar que esse negócio de torcida Clanessa é fantasia. O jogo só termina quando acaba.
O Novo HomemCarlos Drummond de AndradeO homem será feito 
em laboratório. 
Será tão perfeito como no antigório. 
Rirá como gente, 
beberá cerveja 
deliciadamente. 
Caçará narceja 
e bicho do mato. 
Jogará no bicho, 
tirará retrato 
com o maior capricho. 
Usará bermuda 
e gola roulée
Queimará arruda 
indo ao canjerê, 
e do não-objecto 
fará escultura. 
Será neoconcreto 
se houver censura. 
Ganhará dinheiro 
e muitos diplomas, 
fino cavalheiro 
em noventa idiomas. 
Chegará a Marte 
em seu cavalinho 
de ir a toda parte 
mesmo sem caminho. 
O homem será feito 
em laboratório 
muito mais perfeito 
do que no antigório. 
Dispensa-se amor, 
ternura ou desejo. 
Seja como for 
(até num bocejo) 
salta da retorta 
um senhor garoto. 
Vai abrindo a porta 
com riso maroto: 
«Nove meses, eu? 
Nem nove minutos.» 
Quem já concebeu 
melhores produtos? 
A dor não preside 
sua gestação. 
Seu nascer elide 
o sonho e a aflição. 
Nascerá bonito? 
Corpo bem talhado? 
Claro: não é mito, 
é planificado. 
Nele, tudo exacto, 
medido, bem posto: 
o justo formato, 
standard do rosto. 
Duzentos modelos, 
todos atraentes. 
(Escolher, ao vê-los, 
nossos descendentes.) 
Quer um sábio? Peça. 
Ministro? Encomende. 
Uma ficha impressa 
a todos atende. 
Perdão: acabou-se 
a época dos pais. 
Quem comia doce 
já não come mais. 
Não chame de filho 
este ser diverso 
que pisa o ladrilho 
de outro universo. 
Sua independência 
é total: sem marca 
de família, vence 
a lei do patriarca. 
Liberto da herança 
de sangue ou de afecto, 
desconhece a aliança 
de avô com seu neto. 
Pai: macromolécula; 
mãe: tubo de ensaio, 
e, per omnia secula
livre, papagaio, sem memória e sexo, 
feliz, por que não? 
pois rompeu o nexo 
da velha Criação, 
eis que o homem feito 
em laboratório 
sem qualquer defeito 
como no antigório, 
acabou com o Homem. 
       Bem feito. 

Carlos Drummond de Andrade, in 'Versiprosa'
Fonte: http://www.citador.pt/poemas/o-novo-homem-carlos-drummond-de-andrade

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